A dura rotina dos estudantes guineenses no Brasil!
Uma colega de universidade me perguntou: o quê é viver e ser estudante africano no Brasil, como somos tratados na nossa comunidade, e como nos mantemos aqui? A minha resposta foi: Quer mesmo saber! Vou-te explicar com alguns promenores mas jámais sera suficiente sem o conhecimento in-loco da realidade. Somente para ilustrar temos o factor adaptação, a hipocrisia do racismo, a teoria de levar vantagem em tudo e por sermos africanos somos sempre vistos como homens do continente onde ocorrem as maiores atrocidades da humanidade, guerras, fome, corrupção e miseria absuluta. A vida de um estudante africano não é fácil num país como Brasil ou em qualquer outro, a rotina de um estudante é difícil, país novo e cultura diferente, métodos de ensino diferentes, o individualismo, a concorrencia desleal que nós leva muita das vezes a navegar nas águas das saudades da casa, da família e dos amigos. É um corre-corre; tudo cronometrado, casa, faculdade, casa, cozinhar, biblioteca, lavar a roupa, limpar a casa. Depois as preocupações extras pois a incerteza das transferencias dos nossos subsidios dado as dificuldades financeiras que o nosso país atravessa, leva-nos muitas vezes a atrasar com o pagamento do aluguel do apartamento, onde a lei nos obriga a pagar juros da demora, reduzindo consequentemente o valor das nossas mesadas e aumenta outras obrigações. Foi depois de ter explicado à ela, que realmente dei conta da “aventura” que é estudar fora da Guine – Bissau. A pressão que os pais exercem sobre seus filhos, motivada pelo amor e pela esperança de uma vida melhor, tem, nos piores casos, consequências tão nefastas quanto imprevisíveis, a meta determina uma vida marcada pelo sucesso ou condenada ao ostracismo. Os nossos pais são na maioria ex-estudantes portanto irão de certeza entender as críticas que lhes dirijo. Quando o filho ou filha consegue uma vaga numa universidade Brasileira, os pais orgulhosos contam a novidade para a família e amigos. A ilusão que o mais difícil ficou para trás, faz com que tanto o educando e encarregado de educação se esqueçam que uma nova prova, talvez mais desgastante, ainda está por vir. É certo que é essencial passar por situações em que seja necessário ser adulto, pois é esse o momento de assumir responsabilidades e amadurecer. Entrar para a faculdade é descobrir um mundo novo de conhecimentos e possibilidades para o futuro, mudar de país, para obter a tão sonhada licenciatura tem que ser planeada. As mudanças são muitas, o aprendizado também, a reviravolta na vida pode ser ainda maior, pois além do espaço académico o estudante deixa o seu mundo, família, amigos e toda uma rotina para trás. Entra num mundo diferente e desconhecido parcialmente por ele, porem longe de tudo e todos que faziam parte do seu quotidiano. É importante calcular na "ponta do lápis" todos os gastos que virão com o ingresso no ensino superior. Uns factores têm de ser avaliados; a) Estado do Brasil onde vai estudar, reunir o maior número de informações sobre a cidade, clima, costumes, cultura local conhecer as vantagens e beneficios que a universidade oferece, para evitar futura frustrações, conversar com quem já morou ou mora na cidade, com vista a , planear a sua vida é essencial. É aqui que tantos os pais, como os alunos comentem erros que podem vir a ser determinantes para atingir ou não o sucesso desejado. Os alunos, os pais, e o Estado, cada um têm a sua cota parte de responsabilidades neste drama, sim porque a situação de alguns colegas que não deram importância a esses pormenores antes de saírem de Bissau é dramática. Vir por vir não é a solução há que ter em conta: Livros, transporte, matrícula, taxas, mensalidade, xerox, (fotocopias) que estão a ser proibidas actualmente, moradia, alimentação, esses são apenas alguns gastos que o estudante terá de encarar assim que ingressar na universidade. A situação fica mais complicada ainda caso o estudante não tenha nenhuma referência no país. A chegada ao Brasil, o primeiro choque, encontrar uma moradia para residir, pois as exigencias são tantas, desde de fiador, até pagamento antecipado de três mêses, por isso encontrar casa no Brasil é deveras penoso. Um estudante pode passar quase um ano a procura de uma casa, se tiver a sorte de encontrar um Ap (apartamento) na melhor das hipóteses terá que a dividir com outros compatriotas o que nem sempre dá certo devido as diferenças pessoais, o aluguel dos estudantes pode variar entre R$ 200 a R$ 500 convertido em euros sai qualquer coisa como £150 a £200, o estudante deve ter em conta que precisa de ter pelo menos R$ 1000 para os primeiros 3 meses, isso se for a morar com algum parente ou amigo(a) caso contrario o preço é o triplica pois será lhe exigido a caução que equivale a três meses de renda ou seja R$ 1700. A primeira coisa, é “tentar” encontrar uma moradia antes de deixar Bissau, o estudante tem que chegar ao Brasil com certeza de ter assegurado uma habitação, e não com incertezas de chegar ver e arranjar. Depois de tratar de toda a documentação, o primeiro passo é abrir uma conta no banco Brasil. Todos os meses pai, mãe ou algum parente passam a enviar a mesada para conta através do Wester Union ou Money Gram. O montante vai depender do custo de vida da cidade ou estado, mas deve ser suficiente para que o filho pague aluguel, alimentação, transporte, telefone, mensalidade da faculdade (no caso da particular) e despesas extra (médico, plano de saúde, remédios) e lazer. O custo de vida médio de um estudante em cidade do interior é de R$ 750,00; mas grandes cidades, varia de R$ 800,00 a R$ 1.500,00. para dificultar ainda mais as coisas os estudantes estão a enfrentar, a forte valorização do Real face ao Dólar, (todas as transacções no Brasil é feita em moeda Americana) a mesada que já de si é curta, menor fica. Desde de Janeiro, o Dólar tem caído sistematicamente de 2.12 em Janeiro para 2.02 em Maio. Por exemplo se um estudante recebe USD 300 da em R$ 606 presentemente, enquanto que no início do ano esse valor era de R$ 660, como fazer face com todas as despesas com essa mesada? Sem falar que ainda tem a alimentação, despesas medicas! Em geral cada consulta fica na casa dos R$ 50,00, e a alimentação em torno de R$ 70,00 a 100,00. Mesmo com a ajuda do Itamaraty que tem feito muito para ajudar os estudantes atribuindo bolsas entre os R$ 350 (federal) a 500 (estadual) Convêm relembrar aos pais Guineenses que os filhos não ganham bolsas de estudos como muitos crêem, mais sim vagas em universidades, isso significa que os custos da estadia do educando serão suportados exclusivamente pelos os seus pais. Longe vão os tempos em que os países de bloco de leste europeu suportavam esses encargos, porque isso os ajudava nas suas estratégias geopolíticas durante a “guerra-fria”, nessa altura existiam bolsas de estudos. Não culpo os nossos já muito sacrificados pais pela a situação em que se encontra a débil economia do nosso país, mas, isso é só para terem uma noção do que passamos aqui, e que não estamos a ter uma vida de luxo como muitos pensam, mas enfim! Sabendo disso cabe a nós estudantes sim agradecemos primeiro a Deus, aos nossos pais, ao nosso país, e ao governo brasileiro por nos proporcionarem tal oportunidade, que permanecerá para sempre nas nossas vidas.E pedir aos pais e responsáveis que pensem no assunto e aos que pensam em mandar seus filhos que pesquisem bem sobre o assunto.
Comentários
Como ja te tinha dito o texto está mto mto bom, e precisa de mais divulgação, mais gente deveria ter acesso a ele. Trata disso
**bj** Vanessa
Um abraço!
Não conheço esta realidade que você escreveu, mas gostaria de alguma forma poder ajudar.
Rosangela
Seu texto é um relato emocionado do que você e muitos outros têm passado aqui e o que impressiona é a forma como conseguiu abordar, em um só texto, tantos e tão variados aspectos da vida dos estudantes africanos que vêm ao nosso país em busca de oportunidades. Achei cuidadoso e delicado você explicar que não estava criticando os pais que querem o melhor para seus filhos e apenas alertar a todos sobre o que esperar. Tenho outras observações, mas fica para a próxima oportunidade.