quinta-feira, 5 de junho de 2008

O paraíso do “açúcar” branco

Existe humilhação maior do que ser considerado o primeiro estado narcotráfico da Africa? Se existe algum me diga, e de bom agrado aceitarei essa humilhação!
É claro que seria uma heresia da minha parte, dizer que só no meu país que o tráfico de drogas se faz às claras, mas é por ventura um dos países cujo sistema fraco permite este “negócio da China”. O tráfico é o negócio informal mais lucrativo do mundo. Mas então qual o problema se o meu país esta na lista dos mais importante desse negócio? O problema é a culpa, sim a culpa, mas porque a culpa? De acordo com a (Grandes Reportagens da revista Planeta), a “Culpa é um sentimento que leva a pessoa a se considerar responsável por um acontecimento ou situação que ela considera negativa ou errada.” Na semana passada recebi um e-mail de uma querida amiga, sobre uma reportagem realizado por Kevin Sullivan jornalista do Washington Post um dos jornais americanos mais reputados, a matéria em questão intitulado como “Route of Evil” (Caminho do Mal) faz uma reportagem esclarecedora sobre a grave situação do tráfico no meu infortunado país. Confesso que apesar de conhecer essa realidade, eu não estava à espera que a situação fosse assim tão grave, o problema não é mais o tráfico, ou melhor, o facto de sermos o trampolim para outros mercados, a essência da questão são os danos colaterais, o aumento assustador de números de consumidores de cocaína, esse maldito pó que há cerca de 10 anos atrás mal se sabia o que era nesse pequeno pedaço de terra chamada Guiné-Bissau! Quando comecei a ler a reportagem disse para comigo; Aqui vamos nós de novo, porém à medida que avançava com a leitura, a culpa e a revolta tomavam conta de mim, revolta até é compreensível, mas culpa, porque teria culpa de algo do qual não participei? Foi então que me lembrei de uma reportagem que li na revista Brasileira Planeta sobre a culpa. De acordo com os psicólogos, a culpa não “suprime o desejo de revolta. Ela, apenas inibi parcial ou totalmente, toda a revolta reprimida transforma a pessoa num revoltado.” Essa explicação faz todo sentido, porque no fundo um grande parte da sociedade Guineense se sente culpado por esse estado apocalíptico a que chegamos. Mas o grito de Mea culpa morre na garganta antes de ser proferida em voz alta, há muito que os guineenses não têm uma noite de sono tranquilo, porque à noite, no auge da escuridão suas consciências se revoltam em forma de espíritos malignos. A culpa por falta de coragem, culpa pelas degradantes condições de vida, culpa por desejar ser de outra nacionalidade, culpa por sentir inveja dos irmãos Cabo-verdianos que optaram por um outro caminho que ao longo de duas décadas têm dados excelentes resultados, culpa por sermos responsáveis da nossa tragedia, culpa por falta de vontade, e não por falta de capacidade. Diante deste cenário favorável a infiltrações, o resultado só pode ser um estado de sítio.
E esse país perdido no tempo e no espaço que o jornalista americano descreve da seguinte forma: “A cidade de Bissau vem de olhares encantadores depois de décadas de negligência, dúzias de casas em tempos principais, com telhados vermelhos ladrilhados em bulevares, árvore forrados que foram abandonadas a sua sorte. O palácio presidencial vazio desde 1999, quando seu telhado foi destruído por bombas durante a guerra civil”.Mas o golpe mais duro, da matéria sai da boca de um oficial do ministério da justiça, quando diz, “Estamos sub ataque... os traficantes têm na Guine Bissau o seu paraíso, porque um país onde a Justiça e a polícia não trabalham, é um lugar onde os criminosos podem fazer tudo o que eles querem não é um estado é caos, porque eles têm dinheiro, eles têm armas” para concluir e diz o que muitos sabem, mas têm medo de afirmar “eles podem comprar o governo”.A chefe da polícia diz ““ Isto, nem é mesmo nosso problema, nós não produzimos cocaína aqui, mas ela está destruindo nosso futuro, “O paraíso é quando o homem quer e deseja, e como tal “Los Bandidos” indicaram a Guiné-Bissau como sendo o seu paraíso. A sociedade podre culpa as autoridades, que culpa os Guineenses por não terem sido “agraciados” com uma terra mais rica, assim não haveria necessidade de agora “aprender” a falar o espanhol, afinal o português e o francês serviam na perfeição para suas actividades. Maldita globalização, ela não serve para nós os miseráveis, somos o elo mais fraco, até agora vítimas da corrupção, da fome, e das infinitas guerras, surgi agora mais um problema, o aumento dos preços do petróleo e dos alimentos que impulsionaram a inflação mundial. Escalada do preço do arroz não é mais uma previsão, é uma realidade dura, como dizia o Maio Copé em uma das suas canções há muito tempo “A nós de terceiro mundo, i cá pircis bô mandanu bumba, basta som bô cortanu bianda a li tarbadju cunça” (nós os terceiros mundistas, não precisamos que nós bombardeiam, baste apenas que nos cortem o arroz para que nossos piores pesadelos se tornem realidade). A minha paciência acabou, não aguento mais esse paraíso, prefiro um lugar quentinho no inferno. Socorro, alguém nos ajude! Mundo, UN, assim não dá, alguém ou alguma autoridade tem que se manifestar, senão pegamos em armas, mas espera… já o fizéssemos, e o que conseguimos foi uma destruição terrivelmente superior à provocada por onze anos de guerra colonial, portanto esse cenário, esta fora de cogitação, porque se não os invejosos de plantão iriam nos acusar de falta de imaginação.

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