O Boêmio Reinventado

Não sou de sair muito para a balada, “Nigth” noitada ou qualquer outro nome que caracterize sair à noite e “balançar” a ossada, embora não signifique que não goste de virar “Vampiro” de tempos em tempos, sempre fui assim, em Lisboa, Bissau, Rio ou outro lugar que se preze. No entanto ultimamente, a frequência com que o tenho o feito, aumentou consideravelmente, para minha surpresa a diversão tem sido gratificante, a questão não é que terá mudado, mas sim porque esta minha fase Boêmia se apresenta justamente nessa fase da minha vida? Sinceramente, não sei talvez o que realmente mudou foi o facto de conviver diariamente com um DJ. Quem te viu, e quem te vê, nem o “Merlin” poderia prever, que o carreta, o pacato Malam, se tornaria num boêmio!

O boêmio é, antes de tudo, um rebelde. Calma. Não se apresse. Não se trata de rebeldia subversiva. Nada disso. O boêmio é rebelde no sentido, talvez, da rebeldia do “homem rebelde” de Albert Camus. Se a palavra, porem, pode parecer digna de qualquer suspeição, digamos, em vez de rebelde, insatisfeito ou, melhor, chateado. Segundo o dicionário Houaiss, a palavra veio do francês “bohême” ou “bohème” (1372), significando habitante da Boêmia, vindo do topônimo latino medieval Bohemus, no latim clássico Boihaemum (nome do país de povo celta na Europa central). Também teve a acepção (1522) de cigano, membro de tribos errantes tidas como originárias da Boêmia. Isto é, este Malam, dito boêmio, faz parte daqueles que vivem unicamente para comer, beber, dormir, ejacular e produzir novos membros do imenso rebanho de sujeitos-substantivos-comuns?

O boêmio ama o novo, o diferente, o que se renova a descoberta, o desconhecido, a aventura. O boêmio é um aventureiro no melhor e no mais largo, no mais dilatado sentido da palavra. É um faminto e um sedento do diferente, do desconhecido, do exótico. Eis o motivo por que ele sempre foi olhado com espanto e com certo escândalo. Criticam seu modo de vida pelo simples fato de ser um modo de vida diferente do dos demais. Por ele procura fazer coisas que os outros não fazem ou não sabem ou não podem fazer. Por isso acreditam que ele é um errado, um louco. Um visionário. Na verdade, ele não é acomodado. E todos os que não se acomodam, incomodam os acomodados. Mas isto é uma questão de modo de ver as coisas. É uma questão de perspectiva, é como a arte sempre foi irmã do sonho. E o sonho é o que há de mais em nós mesmos. A razão nos enlouquece. O sonho pode nos surpreender e angustiar. Mas é o que está mais perto da nossa realidade profunda. Por isso acredito que a técnica só não desumanizará o homem se andar de mãos dadas com a arte.

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