quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Guiné-Bissau e a fábula do Sísifo  


NÃO, eu não acredito que fomos “brindados” com a mesma sorte do Sísifo, mas... Tal como Sísifo, personagem da mitologia grega condenada a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar a pedra até ao topo da montanha só para a ver rolar colina abaixo novamente, os guineenses parecem ter cometido o mesmo erro que o mais sábio e prudente dos mortais, que foi Sísifo. Este, ao revelar o seu segredo aos deuses gregos, ficou condenado eternamente... É triste afirmar, mas no fim é valido sentenciar sem heresia que os 12 anos de luta armada contra Portugal, apenas dignificam os verdadeiros e genuínos heróis Guineenses. Homens e mulheres que se sacrificaram em nome de um sonho chamado Guiné-Bissau, no entanto, quase 40 anos depois de ter sido considerado o país do futuro, a Guiné é presentemente uma terra do nunca, sem rumo, um navio a deriva sob olhar “extasiados” de cartéis, traficantes e mercenários.

O que acontece no país, só surpreende quem desconhece a prática institucionalizada dos golpes militares e da violência organizada. Na Guiné, parece impossível o diálogo, a consensualização de interesses entre fações políticas e étnicas para consolidar um projecto nacional. Como se explica que o país que foi o propulsor das lutas de libertação nacional dos países africanos contras as colônias ocidentais possa actualmente viver esta situação? Não tem, exactamente uma linha de pensamento que possa levar a entendimento como um todo dos nossos problemas, a primeira razão é a profunda crise democrática, constitucional e jurídica, que afectam a sua estabilidade, sem que a sua estrutura económica haja revelado, até ao momento, a solidez necessária para garantir um bem-estar mínimo à sua população. São, 15 anos de tormentos, um turbilhão sucessiva de crises, existe uma divisão clara e inequívoca na sociedade guineense, que não acredita mais em valores liberais e democráticos, há uma contestação aos “ditos” elites sejam castrem-se ou política vistas como incompetentes e corrupta, que tem proporcionado chegada de uma linguagem nacionalista, populista e demagoga. Sinais de uma nação descrente com suas instituições incapazes de olhar para as reais necessidades do povo. São muitas as dimensões ocultas da grande crise contemporânea guineense, desde desenfreada ganância, ao fenomenal falta de responsabilidade coletiva, por isso afirmo que a questão não é como ou porque, é, sobretudo uma questão de coragem para aceitar sem falso patriotismo, que o estado guineense como um todo é obsoleto, inadequado e disfuncional! O país não conseguiu ou não quis acompanhar a forma como o mundo se alterou nos últimos 20 anos, mais que isso, os sucessivos “novos” senhores não tens respostas para as mudanças ocorridas na demografia e na cultura guineense. Como se o desafio fosse pouco, ainda temos que conviver com as múltiplas ingerências externas, o conceito de soberania, se perdeu no tempo, os acontecimentos tenebrosos, servem para comprovar que a comunidade internacional, “esta se lixando” para os guineenses, para ela somos lixos a ser descartado, é terrível e chocante dizer isto, mas é a mais pura verdade, consequência directa de não existência de um líder ou reservas morais de facto, e, esse “handicap” é bem aproveitado pelos falsos amigos, que sabem que tudo que têm que fazer é aproveitar da nossa desorientação e incapacidade de sermos lúcidos em momentos chaves.

Há uma necessidade imperial de um novo Cabral, mas essa ideia assusta de tal modo os “suspeitos habituais’ que a cada dia se produzem figuras pitorescas só ao alcance das personagens criadas pelo grande e saudoso Jorge amado”. Os guineenses estão exaustivamente cansados de remar um barco travado por uma ancora, que para além de pesado, é propositalmente travada, por isso dificilmente sai do lugar, estamos no limite da nossa sanidade, vivemos no caos não há como negar, esse é o retrato de um país desagregado, que mudou e envelheceu, onde o ar deixou de fluir com naturalidade, porque o discurso do medo impera, a convicção, é que, é ; melhor partir, porque do momento não é possível sonhar! 40 Anos depois, verificamos que, nunca se tratou dos Guineenses em si, nem da honra de nascer nessa terra sagrada, ou fazer dela uma nação próspero, foi sempre, sobre a ganância, arrogância e poder, os políticos, militares e os usurpadores, sequestram a Guiné de todos nós, e quando nos apercebemos da nossa condição de refém, já era tarde! Mais que pensar em milagres econômicos ou reformas, é preciso urgentemente, reparar as feridas tanto físicas, como psicológicas!

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