Samia Yusuf Omar
O sonho olímpico de Samia Yusuf Omar
morreu a caminho de Itália
O mundo reparou em Samia Yusuf Omar na manhã de 19 de Agosto de 2008: a jovem somali de 17 anos competia nas eliminatórias dos 200m nos Jogos Olímpicos de Pequim. Foi a mais lenta das 52 atletas em prova, com uma marca de 32,16s. Um registo muito mais lento que o recorde do mundo (21,34s), mas mesmo assim suficiente para ser a melhor marca pessoal da velocista somali. E para cumprir o grande objectivo que a tinha levado à capital chinesa: participar nos Jogos Olímpicos.
Os segundos de atenção mediática passaram e Samia regressou à Somália: “Foi uma experiência espectacular. Levei a bandeira da Somália, desfilei com os melhores atletas do mundo”, diria. Quatro anos depois, ninguém deu pela falta de Samia Yusuf Omar em Londres 2012. Agora, chega a notícia de que morreu quando tentava atravessar o Mediterrâneo, de barco, a caminho de Itália.
A história foi inicialmente contada por Igiaba Scego, escritora italiana de origem somali, no blogue do jornal italiano “Pubblico”. E reproduzida por toda a imprensa mundial, como um exemplo do sonho olímpico e dos sacrifícios que um atleta faz para o perseguir. Num vídeo da prestação de Samia Yusuf Omar em Pequim publicado no YouTube, acumulam-se as mensagens de condolências. Scego cita o ex-atleta Abdi Bile, o primeiro somali a sagrar-se campeão nuns Mundiais de atletismo, em 1987, nos 1500m. “A raparida, Samia, morreu... Morreu por tentar atingir o Ocidente. Tinha apanhado um barco na Líbia, que a devia levar para Itália. Mas não conseguiu. Era uma boa atleta. Uma óptima rapariga”, contou Bile em Mogadíscio. Citado pelo diário espanhol “El País”, o treinador da atleta somali, Mustafa Abdelaziz, conta que Samia Yusuf Omar continuou sempre a treinar-se no Estádio Olímpico de Mogadíscio para conseguir um lugar em Londres 2012. Falhado esse objectivo, a jovem apostou em chegar à Europa de maneira a ter condições de treino. E assim seguir o exemplo de outro somali: Mo Farah, nascido na Somália e campeão olímpico nos 5000m e 10.000m em Londres 2012, pela Grã-Bretanha.
Conta ainda o “El País” que a mãe de Samia terá vendido um pequeno terreno que tinha para pagar a viagem à filha. A velocista era a mais velha de seis irmãos, tendo já perdido o pai na guerra que há décadas assola o país do corno de África. “Estamos felizes pelo Mo [Farah], é o nosso orgulho. Mas não esquecemos a Samia”, resumiu Abdi Bile. Duas vidas, dois sonhos, dois finais tão diferentes.
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