CHEIRA BEM, CHEIRA A LISBOA…



A SAUDADE, TALVEZ SEJA O SENTIMENTO MAIS COMPLEXO QUE O HOMEM PODE SENTIR!












De tempos em tempos, somos, atacados por uma nostalgia inexplicável, saudades de pessoas, lugares, objectos, sentimentos, enfim um determinado conjunto de factores, para algumas coisas ainda é possível um refrescar através de cartas, fotos ou vídeos, sem contar que pelo caminho ainda é possível um deja vu, ainda assim é difícil para a mente aceitar que há coisas que o tempo pura e simplesmente reservou para si, um misto de sensações que provocam lágrimas, risos, reflexões ou por vezes respostas…


CHEIRA BEM, CHEIRA A LISBOA…
É outono em Lisboa, caminho pela baixa pombalina, as folhas caídas com a sua pigmentação especial, uma mistura entre o amarelo e pintas castanhas abundam pelo chão, o cheiro próprio das castanhas assadas se faz presente, entre um frisem de pessoas agasalhadas de cabeças aos pés, ainda que gelado, o frio é delicioso. Vejo uma cidade, lavada com passar do tempo, ela é agora uma mulher moderna e requinte, em nada se parece com aquela menina moça simples dos anos 80, a moça que ainda procurava da sua própria identidade entre defeitos e virtudes, mas quem quer saber de defeitos? É nos seus envolventes encantos que me deixo perder, não há como resistir, tantos lugares mágicos e historias a serem descobertas, o desafiante Chiado, que nem as chamas foram capazes de vergar, o castelo de São Jorge, parecem paisagens de um conto medieval, existe um elo invisível que une o passado e o futuro num só lugar, o antigo e o contemporâneo entrelaçados num abraço fraterno.  


As famosas feiras populares, a feira do Relógio e a feira da Ladra e os seus inconfundíveis personagens, uma mistura entre o Portugal continental e o ultramarino (África, quem o diz é o Salazar) e os não menos portugueses embora sem o reconhecimento que lhes é divido, os Ciganos, todos numa maratona de compras e vendas, é uma moldura de etnicidade pitoresca, mas humana, pelas ruelas repletas e apertadas, há uma sinfonia ensurdecedor de gritos dos vendedores (Comprem, Comprem, hoje o amigo faz duas pares por 5 euros, ou Mil escudos…) OPA,  "Alto e Pára o Baile" , alguém gritou a palavra escudo, como se fosse uma melodia perdida com o tempo, de repente, é como se Lisboa, melhor o universo se resumisse aquele espaço apenas, ah o escudo, alma lusitana no seu resplendor máxima, por breves instantes o Portugal de Camões faz sentido de novo, o tempo é de crise, mas de alguma maneira, é como se a esperança num futuro melhor nunca tivesse sido diluído pelas crises financeiras, a caminha continua, a paisagem é um regalo aos olhos, ao longe, o velho mas omnipotente Marquês de Pombal, rumo ao seu encontro, ao chegar a sua beira, sou saudado por uma fria brisa, como se me desse as boas vindas. 


Deixo o velho Marquês, e continuo a caminhada, o Rossio me aguarda, pelo caminho reparo em tantos detalhes, a emoção cresce a medida que me aproximo, as recordações ameaçam transformar os meus olhos em uma cascata, respiro fundo para me acalmar, se não o coração salta pela boca, quando recupero o controlo, a modernidade me avisa que agora é o senhor do destino, nem precisava, toda a estética daquele atmosfera se transfigurou, ali o velho, embora bonito, sequer lhe passa pela cabeça rivalizar com o novo. O rossio, embora renovado, contínua com a mesma agitação do passado, ainda que as suas instalações sejam agora mais cómodas e bonitas, a correia de um final de tarde, entre chegadas e partidas, caras e vidas que se cruzam, alguns conhecidos param para os habituais cumprimentos e saudações, dependendo do grau de familiaridade ou de confiança. 


Entre troca de olhares e sorrisos, a vida não para, saio da estação tão silencioso quanto entrei, já na rua, no meio de um oceano de acontecimentos, dou por mim a procura algo, sim, falta alguma coisa, ah sim, lá esta ele, o velho eléctrico amarelo, velho, "Velhos são os trapos", ter-me-ia dito o eléctrico pudesse falar, a cidade está com cara nova, e com ele o seu sistema de transporte, os marcantes eléctricos foram substituídos por novas máquinas mais confortáveis. Embarco num deles em direcção a Estrela, o trajecto é repleta de novidades, reconheço algumas coisas durante a viajem, mas a maioria é tudo novo, passo pelo largo de Rato, e inicio a subida que me leva até ao Jardim da Estrela, o El dourado do meu itinerário, ali, naquele lugar, esta reservada todos os tesouros da minha adolescência, é um lugar sagrado, mais não digo, não saberia descrever a importância, do outro lado da rua a Basílica da Estrela, quem logrou criar este cenário, teve uma inspiração divina!   

Comentários

Anónimo disse…
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